Reflexão sobre o Dia da Consciência Negra
- relatorio6

- 22 de nov.
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Meu pai costumava repetir uma frase que, pela força simbólica, nunca mais saiu da minha memória. Durante uma palestra no Club Hebraica, no coração do Jardins, ele afirmou: “O primeiro judeu era negro.” Não era provocação; era ciência. A frase se apoiava em décadas de pesquisas em antropologia biológica, genética populacional e arqueologia, que apontam para a África — especialmente a região do chamado “Corredor do Rift” — como berço não só da vida humana moderna (Homo sapiens), mas também das primeiras migrações que originaram os povos semitas, incluindo os hebreus antigos.

Estudos de paleoantropologia publicados na Nature e na Science reforçam a tese de que nossos antepassados compartilhavam características fenotípicas africanas antes de se dispersarem para o Oriente Médio. A arqueogenética também sustenta que a diversidade presente no DNA humano atual é maior na África do que em qualquer outro continente, o que indica uma ancestralidade comum, anterior a todas as distinções socioculturais posteriores.
Se na base da antropologia somos todos africanos, na base do catolicismo somos todos filhos de Deus. E em tantas outras tradições espirituais — das sociedades matriarcais neolíticas às cosmologias afro-diaspóricas — Deus é feminino, criadora, nutridora, matriz da vida. Já nas culturas panteístas, como o hinduísmo e as filosofias helenísticas, o divino se manifesta como múltiplas potências de energia, simbolizadas por arquétipos humanos que representam virtudes, forças da natureza, equilíbrio e transformação.
Essa pluralidade não nos fragmenta — nos engrandece. Ampliar o olhar sobre as diferentes faces do sagrado é compreender a humanidade em movimento. Viajar faz isso com maestria. Cada destino nos revela jeitos diferentes de expressar o divino, celebrar a identidade, interpretar a história e viver a vida. Seja numa mesquita que ecoa séculos de sabedoria, num terreiro onde ancestralidade pulsa, numa sinagoga que guarda memórias de resiliência ou em uma catedral que combina fé e arte, o espírito humano encontra maneiras variadas de explicar aquilo que nos ultrapassa.
Por isso, viajar é mais do que deslocar-se: é um ato de expansão da consciência. O Turismo deve ser entendido — e adotado — como vetor estratégico de desenvolvimento global, não apenas por seu impacto econômico, mas por sua capacidade de gerar:
· Empregos qualificados e inclusivos, segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), que apontam o setor como o responsável por 1 em cada 10 postos de trabalho no planeta;
· Distribuição de renda e melhoria da qualidade de vida, sobretudo em comunidades que dependem da economia do visitante para preservar culturas, gastronomias e ambientes naturais;
· Bem-estar emocional, comprovado por estudos de psicologia do comportamento e neurociência que associam viagens a aumento de criatividade, empatia e resiliência;
· Desenvolvimento de habilidades socioemocionais, essenciais para o século 21, como tolerância, adaptabilidade, comunicação intercultural e resolução de conflitos.
Em um mundo marcado por polarizações, crises ambientais e desigualdades persistentes, o Turismo é uma ferramenta de aproximação. Ele nos desloca fisicamente, mas também mentalmente. Ver o mundo sob outros prismas ensina humildade, amplia repertórios e fortalece a percepção do que realmente importa: convivência, diversidade e cooperação.
Somos descendentes de uma mesma linhagem humana, que se desdobrou em mitos, línguas, religiões e formas de interpretar o divino. Cada povo encontrou sua maneira de explicar a existência — e todas elas pertencem ao patrimônio da humanidade.
A ciência confirma que compartilhamos a mesma origem. A espiritualidade mostra que buscamos, cada um a seu modo, um sentido maior. O Turismo nos permite compreender ambos.
Que a humanidade, ao viajar mais e melhor, reencontre aquilo que nos torna iguais: a capacidade de evoluir, aprender, sentir e prosperar juntos — na paz, na dignidade e na beleza irrepetível de cada cultura e cada pessoa.





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