O “Deus brasileiro”, a malandragem criativa e a hospitalidade que dá liga
- relatorio6

- 17 de set.
- 2 min de leitura
*Por Luiz Henrique Arruda Miranda

Costumamos “jogar pra Deus” aquilo que nos parece grande demais: a inflação do cotidiano, as dores silenciosas da mente e as inquietações do espírito. Longe de ser fuga, esse gesto revela um traço da nossa cultura: o “Deus brasileiro” tem malandragem criativa — não para burlar regras, mas para encontrar caminhos onde parece não haver saída. É a arte de conciliar diferenças, de “casar judeu e palestino”, como diz o dito popular, sem negar conflitos, mas reconhecendo que há pontes possíveis.
Esse modo de ver o mundo nasce de uma brasilidade híbrida: permissividades indígenas e africanas sob a lente europeia colonizadora. Nessa mistura, aprendemos a resistir e a superar preconceitos. E, se a fé inspira, a prática exige método. Porque problemas materiais, emocionais e espirituais pedem soluções complementares: tecnologia e formação, acolhimento e escuta, ética e governança. Fé não substitui processo; dá sentido à caminhada.
No mercado de viagens, turismo e eventos, essa síntese se prova todos os dias. O setor é uma cadeia longa — transporte, alojamento, alimentação, cultura, tecnologia, promoção — alinhavada por redes associativas que reúnem líderes com responsabilidades reais. Quando essa rede opera como comunidade de propósito, o “Deus brasileiro” deixa de ser desculpa e vira compromisso: produzir valor econômico enquanto promove paz social e fraternidade no território.
Aqui, o hoteleiro tem papel insubstituível. O dono do hotel é o guardião da hospitalidade. É ele quem decide se a planilha manda na experiência ou se a experiência educa a planilha. Abraçar os valores da hospitalidade significa treinar equipes para o cuidado, investir em acessibilidade, honrar direitos trabalhistas, comprar de fornecedores locais, medir impactos e reduzir desperdícios. Significa também usar ferramentas competitivas — da qualificação profissional à inteligência de dados — para aumentar produtividade, reduzir custos de insumos e valorizar as pessoas — por direito, sujeitos de dignidade e proteção.
O hóspede percebe quando a casa tem alma. Um check-in que respeita diferenças, um café da manhã que dialoga com o entorno, um evento corporativo que inspira pertencimento: são gestos que somam reputação, recorrência e receita. E, quando a governança é sólida, até a “malandragem criativa” ganha outro sentido: vira improviso competente, aquele que resolve sem romper a ética.
Talvez seja essa a vocação da nossa “fé prática”: transformar o “se Deus quiser” em estratégia compartilhada. O Brasil que aprende com sua diversidade pode ensinar que hospitalidade não é só negócio; é tecnologia social de convivência. No fim do dia, a verdadeira produtividade é a que harmoniza matéria, emoção e espírito — e faz do encontro entre pessoas o nosso melhor produto.





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